sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Como ele veio ao mundo...

No momento em que ouvi o Miguel chorando a primeira vez aprendi uma lição pra vida toda: Nunca desista de um sonho. Nunca deixe com que ele se perca pelo caminho...
Infelizmente, essa lição aprendi através da dor! O momento mais importante da minha vida, o mais esperado, se tornou o mais frustrante.
Por Deus, o Miguel veio ao mundo cheio de saúde. Forte e saudável. Nasceu no dia 18 de junho de 2012 pesando 3675 kg e com 51,5 cm. Um tourinho!
Mas, sua chegada ao mundo não foi como eu esperava...
Durante toda a minha gestação me preparei para um parto normal. Mas não era o suficiente para mim. Queria mais. Comecei a estudar os procedimentos hospitalares e fui ficando cada vez mais decepcionada em como alguns profissionais trazem as crianças ao mundo.
Passei a ver vídeos e mais vídeos de partos humanizados. Partos em que as mulheres tomam as rédeas daquele momento e agem através de seus instintos. Partos no qual os profissionais envolvidos agem de maneira respeitosa e invisível, para que aquele seja um momento apenas da família.
Pronto! Havia decidido...era o que eu queria pra nós.
Aos poucos, fui convencendo meu marido da ideia e mostrando pra ele quanto isso era mais saudável. Me preparava dia após dia para aquele momento. Queria muito sentir essa dor...dor que me traria minha maior alegria. Uma dor que não é de sofrimento...dor que tem um objetivo final cheio de beleza.
Procurei uma doula para que me acompanhasse em meu parto. Ainda não estava certa sobre ter o Miguel em casa. Além de isso me custar uma nota, não achava naquele momento que fosse a escolha mais segura.
Estávamos com horário marcado para a conversa com a doula, para acertamos todos os detalhes e eu e o Tiago, meu marido, resolvemos ter uma última conversa sobre nossa escolha. E não sei por qual motivo, chegamos a conclusão de que o momento do nascimento do Miguel, deveria ser um momento nosso, apenas nosso! Que talvez a doula nos atrapalhasse.
E foi aí que comecei a errar.
Não fomos a nossa reunião e resolvemos andar com nossas pernas.
Fui até a maternidade para conhecer os procedimentos. Mudei de médica e cai na conversa de uma médica que dizia ser super a favor do parto normal. Disse que esperaríamos o quanto fosse necessário. Fui conversar com o pediatra responsável da maternidade para dizer que queria o Miguel em meus braços assim que ele nascesse. Queria que ele mamasse antes de ir para o berçário e que ficasse por lá o mais rápido possível. E ele me garantiu que isso aconteceria e que assim que eu voltasse para o quarto da recuperação, meu filhinho já estaria comigo.
E eu fui acreditando...e acreditando! E aquilo foi se tornando um sonho, um desejo cada vez maior. Conseguia visualizar o Miguel nascendo da forma mais bela possível.
E então, no dia 18 de junho, eu estava dormindo e minha bolsa se rompeu as 6h da manhã.
Não estava sentindo dor nenhuma. Levantei, corri pro banheiro e por uns 5 minutos fiquei sozinha, vibrando de alegria e tranquilidade porque havia chegado o grande dia. Eu estava feliz. Estava em paz.
Fui acordar o maridão dizendo: "Acho que o Miguel vai nascer hoje...acho não, tenho certeza!".
Fui tomar um banho, passeamos com o Tódi, meu cachorro, lavei louça, ajeitamos a casa e as coisinhas do Miguel e quando deu umas 8h não sabia mais o que fazer. Estava sem dor nenhuma e não sabia quanto tempo podia ficar com a bolsa estourada.
Resolvi ir para o hospital! (Péssima escolha!!)
A ginecologista que acompanhou meu pré natal estava de plantão na maternidade. Foi ela quem me examinou logo cedo e viu que eu estava apenas com 1 cm de dilatação. E me disse com muito amor: "Confie em mim, tudo vai dar certo!". É claro que eu confiei né?!
Resolvemos esperar até hora do almoço e eu comecei uma maratona interminável nos corredores do hospital. Andei, dancei e fiz todos os exercícios que havia aprendido na Ioga. Eu estava radiante. Estava linda, sorrindo e já sentindo dor. Uma dor que começou bem leve e era totalmente suportável.
Por volta de 13h da tarde, a médica resolveu fazer novo exame de toque. E para minha decepção a dilatação encontrava-se igual. Apenas 1 cm.
(Hoje, entendo que para uma criança vir ao mundo o corpo prepara-se no seu tempo e faz as coisas acontecerem de maneira natural e lenta...sem pressa.)
Foi então que a médica me disse que iríamos para a sala de pré parto e que lá ela me daria um sorinho para ajudar no trabalho de parto! Fui feliz da vida! Nesse momento, ela me disse que não poderíamos esperar maisque 12h depois que a bolsa houvesse rompido. Acreditei piamente nela, afinal era a vida do meu filho que estava em jogo.
Quando a enfermeira espetou a agulha no meu braço, a dorzinha que eu sentia se tornou em um monstro infernal. Soro maldito de ocitocina! (Só depois fui saber que meu corpo se encarrega de liberar ocitocina em doses homeopáticas...em doses que meu corpo pode suportar.)
Começou meu desespero. As dores eram fortes demais. Era como se do primeiro estágio das contrações eu houvesse pulado para o último. E a enfermeira, que deveria me ajudar com apoio psicológico me disse: vai ficar 10 vezes pior! (Obrigada, sua vaca!)
Cada contração parecia uma eternidade. Não conseguia pensar em nada, não conseguia respirar fundo e me concentrar. Não conseguia visualizar o Miguel nascendo lindamente. Aquilo já havia se tornado um terror. Cada contração, vinha acompanhada de uma diarréia. Corria para o banheiro, que devia ter 1 metro quadrado, levando aquele trambolho de soro comigo. Depois entrava no chuveiro e não cabia lá dentro..queria sentar e relaxar, mas minha barriga imensa ficava esbarrando com a porta do box e não podia mexer meu braço por conta do soro.
Voltava para o quarto e era obrigada a ficar ouvindo os azulejos do quarto ao lado serem quebrados. (Tava rolando uma reforminha básica na sala ao lado...)
Tudo isso foi me deixando muito estressada.
Nessa altura, o Tiago estava desesperado. Não sabia mais o que fazer pra me ajudar e eu também não. Nesse momento, bateu o arrependimento pela primeira vez. E se a doula estivesse aqui comigo...?! Tudo seria diferente...talvez, eu nem estivesse tendo que passar por esse soro porque ela iria agir por mim. Ela brigaria com a médica e diria que aquilo era desnecessário...diria que eu iria esperar o tempo que fosse e que aquilo não me faria mal algum.
Mas, a decisão já estava tomada. Éramos só nós três. Nenhuma enfermeira vinha dar um apoio, uma dica, um remedinho pra dor...a médica, sumiu do mapa e a enfermeira que ficava no corredor me mandava ficar dentro do quarto.
Quando deu 15h eu disse para o Tiago: "Quero fazer cesárea. Eu odeio parto normal...odeio contrações..quero anestesia"...Nós demos risada da situação que pareceu totalmente contraditória a tudo que eu preguei durante toda a gestação. Mas eu estava decidida.
Como não poderia esperar mais que 12h, segundo a médica, pedi que me examinasse outra vez e se não tivesse dilatando, não iria esperar mais.
Ela examinou e eu estava com 3 cm...eram 16h e só poderia esperar até as 18h, então, resolvi pela cesárea.
Fui para o centro cirúrgico e só queria anestesia.
Em menos de 1 minuto eu estava sem nada de dor.
Foi uma sensação horrível. A enfermeira jogava minha perna de um lado pro outro e eu não tinha controle algum sobre elas. Meu corpo tremia involuntariamente. Meus braços foram presos e eu só tinha controle dos movimentos da minha cabeça.
Meu chão já havia caído a muitas horas. Estava tentando não me abalar pela situação. Sabia que tudo ficaria bem e que o Miguel nasceria com saúde. Mas saber que ele não nasceria em paz me atordoava.
Esperamos uma eternidade...tivemos que esperar por uns 10 minutos o pediatra chegar, para que a médica pudesse tirar o Miguel de dentro da minha barriga que já estava toda aberta.
E finalmente ouvi que ele era um bebezão fofo, que parecia que tinha 1 mês. Ouvi seu chorinho. Quer dizer, seus berros!
O choro dele não era nada de chorinho de bebezinho...era um choro forte, choro de dor, de desespero.
Pode parecer loucura, mas vocês acham que o bebê se sente confortável nessa posição?


Pelo que me lembro, ele ficou em minha barriga, todo encolhidinho, com
a coluna toda envergada, por 38 semanas. Imaginem acordar de um sono tranquilo e ser esticado brutalmente sem um pingo de carinho? Isso não me parece nada humanizado.
Essa, foi a primeira vez que vi meu filho. Assim mesmo, nos braços da médica.
Depois, ele foi para os "procedimentos" hospitalares.
Só conseguia ouvir ele chorando muito e aquilo parecia não ter fim! Quando iriam acabar com aquela tortura? Nós dois só queríamos estar juntos.
Nada do que eu havia imaginado estava acontecendo. Era para o meu bebezinho estar em meus braços mamando! Oque estava acontecendo? Como eu podia ter perdido o controle dessa maneira? Não era pra ser eu a protagonista do meu próprio parto? Onde estava toda a minha autoridade, minha determinação?

 De repente, ouvi a voz do papai conversando com o Miguel e em seguida um silêncio absoluto.
Ele havia se acalmado depois de ouvir a voz do papai. Aquilo deve ter lhe parecido tão aconchegante e acolhedor que todo seu medo deve ter ido embora. Ele reconheceu a voz do pai e eu fiquei em paz. Mas queria muito vê-lo. Pegá-lo em meus braços. Queria ter sentido seu cheiro antes de ser limpo pelos médicos. Queria que o primeiro contato dele fosse comigo.
Mas não aconteceu. (Hoje, vejo o vídeo de seu nascimento e chego a ficar em desespero. Choro de raiva e por me sentir tão impotente. A forma como o Miguel chora no momento em que estão "cuidando" dele é assustadora. Aposto e ganho que todo esse medo e insegurança que o bebê tem até hoje, todos os sustos que ele leva sem motivo, todos os choros desesperados que chegam a deixá-lo sem ar quando vou trocar uma fralda, são consequências disso. Sei que os médicos lidam com isso todos os dias. Milhares de crianças passam por suas mãos e eles afirmam que a forma como seguram o bebê não lhe causam mal algum. Tenho certeza que estão errados!)
O Tiago chegou ao meu lado, com aquele pacotinho todo enroladinho...só o rostinho de fora. Tentava mexer meu braço mas ele estava preso. Olhei pra enfermeira e pedi que ela me soltasse. Ai dela se falasse que não...rsrs..
E então, nosso primeiro contato. Senti seu rostinho, seu cheirinho que sinto todos os dias antes de dormir. Um cheiro só dele e que só eu sinto. Aquela pele macia, aquela paz. Senti o maior amor do mundo.



Foi tão rápido, que quando me dei conta ele já havia sido levado outra vez.
Fiquei na sala de recuperação contando os minutos num relógio que estava na parede, na minha frente. Todas as mães dormindo e eu tentando mexer minhas pernas pra ir embora correndo dali.
Subi pro quarto as 21h e todas as vezes que abriam a porta do quarto, achava que era o Miguel. E as enfermeiras me mandavam descansar. Eu não queria descansar!! Queria meu filho! Mas minha vontade não mudou nada.
Ele nasceu as 18:58 e chegou no quarto as 2h da manhã. Ficou esse tempo todo no berçário, dentro de uma incubadora sendo que nada podia aquecê-lo mais e melhor do que eu.
Quando chegou no quarto, percebi que meu pesadelo havia terminado. Agora ele era meu. Finalmente. E ai de alguém se tentasse tirar ele de mim.
Chegou calmo e observando tudo. Coloquei ele no colo e ele não parava de olhar pra gente. Ficamos ali, babando nele. Como se o mundo houvesse parado.
Ainda hoje, me pego olhando pra ele como naquele dia, por horas...cada movimento, cada sorriso, cada pum, cada espreguiçada, é sempre uma novidade.
É um amor que não se cansa de amar. Para os outros pode parecer coisas comuns, mas pra mim é intenso demais.
E foi assim, que tive meu Miguel nos braços pela primeira vez...

Com esse topete de jogador de futebol e com essa carinha de sapeca.

Meu lindo, meu príncipe, meu amor. Quero te pedir perdão por não ter sido firme o bastante para que você chegasse ao mundo da maneira que a mamãe sonhou pra você. Não quero mais sentir culpa por isso, mas não há um dia que eu não coloque minha cabeça no travesseiro e pense que podia ter sido diferente.
Queria que sentisse toda segurança que eu e o papai tínhamos pra lhe dar assim que nasceu, mas isso infelizmente não foi possível. Em algum momento do caminho a mamãe perdeu o rumo...Mas quero que saiba que agora as coisas são diferentes! Sou como uma leõa. Quero ver quem se atreve a te tirar de perto de mim. Quero que saiba também que não precisa ter medo. Você não está sozinho. Repetirei isso quantas vezes forem necessárias pra que você se sinta tranquilo e seguro. Estarei aqui pra você sempre, todos os dias de minha vida! Jamais vou te deixar sozinho outra vez, ok?!
Obrigada filhinho por me ensinar que devemos lutar mesmo, com todas as forças para conquistarmos nossas coisas...

E obrigada a todos por ouvir meu desabafo.
Espero que minha experiência possa mudar o rumo de alguém!

Beijos

4 comentários:

  1. Oi Ma. Li seu relato e estou aqui... tocada, reflexiva, triste.... triste com uma medicina que aprendemos na faculdade que não considera os desejos e capacidades da mulher em parir e sim protocolos, condutas prontas, partogramas. Uma medicina que foi esmagada pela ambição dos planos de saúde que remuneram mal os médicos, sucateiam os hospitais, nos obrigam a atender em "linha de produção" para, com o pouco que nos pagam, termos nosso sustento. Não estou nos justificando de forma alguma!! Está tudo errado mesmo!!! Toda mulher tem o direito de ser respeitada e protagonizar seu parto, recebendo a ajuda, apoio físico e psicológico de que tanto necessita em um ambiente acolhedor, calmo, respeitoso. E penso que pequenas coisas poderiam ser feitas pelo menos para amenizar este quadro.... levar o bebê para o contato com a mãe assim que nasce e assim que a mãe vai para o quarto; amamentar na primeira hora de vida do bebê; evitar medicalizações desnecessárias; prover um ambiente calmo.Enfim, há muito chão pela frente. Vamos juntas nessa luta??
    PS: não fiz o parto da Marcela pois estava parida do Rodriguinho de 1 mês.

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    1. Flavinha, tenho certeza que se você tivesse feito o parto do Miguel, pelo menos parte dos procedimentos desnecessários teriam sido evitados. Você respeita as mulheres e suas opiniões. Você, é humana acima de qualquer título.
      Mas, infelizmente alguns colegas agem mesmo da forma que disse acima...continuam com a teoria da faculdade e esquecem de perceber as necessidades e desejos da parturiente.
      Mas, estou disposta a virar esse jogo. Como? Eu ainda não sei...mas tenho certeza que muitas pessoas tem esse mesmo desejo e que farão qualquer coisa pra mudar essa quadro.
      Espero que meu relato ajude em alguma coisa nessa mudança!
      bj

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  2. Flor, o importante é que você fez o seu melhor e continua fazendo! Com tanto amor, o Miguel crescerá, com toda certeza, cheio de saúde, alegria e luz.
    Bjos

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